miércoles, 22 de junio de 2011

viernes, 3 de junio de 2011

Gilberto Mendonça Teles

O Anjo

Na boca da noite,
na língua da rua,
tu me chamas do oco
de uma sombra nua.

No riso do vento,
no olho da chuva,
me acenas de dentro
de uma coisa turva.

Envolves meu corpo
no teu mundo de água;
cada vez sou outro
noutro corpo e alma.

Conheço teus passos,
teus gestos conheço;
sobre os meus fracassos
vibra o teu começo.

Sobre o meu silêncio
cresce o teu ruído,
sobre a minha angústia
voa o teu segredo

e acima da noite,
sobre o tempo vivo,
paira o desespero
de teu braço erguido.

(do livro "No escuro da pronúncia")