jueves, 3 de septiembre de 2015

Maria Rezende

PAU MOLE

Adoro pau mole.
Assim mesmo.
Não bebo mate
não gosto de água de coco
não ando de bicicleta
não vi ET
e a-d-o-r-o pau mole.

Adoro pau mole
pelo que ele expõe de vulnerável e pelo que encerra de possibilidade.

Adoro pau mole
porque tocar um pressupõe a existência de uma intimidade e uma liberdade
que eu prezo e quero, sempre.

Porque ele é ícone do pós-sexo
(que é intrínseca e automaticamente
- ainda que talvez um pouco antecipadamente)
sempre um pré-sexo também.

Um pau mole é uma promessa de felicidade sussurrada baixinho ao pé do ouvido.

É dentro dele,
em toda a sua moleza sacudinte de massa de modelar,
que mora o pau duro e firme com que meu homem me come.


ECLIPSES EM ESCORPIÃO

mudança
revolução

Eu estou trocando de pele
e isso não é uma metáfora

Feito cobra nas vigas de outra casa
feito um feto quebrando cromossomos

Eu sou de outra galáxia
sou invenção de passarinhos
eu não existo exatamente
eu estou de onda com a sua cara

Eu sou exuberante
eu sou exagerada
sou a morena peituda
com que você sempre sonhou

Sou uma célula tronco
carne do umbigo
sou minha própria cura
drama discreto
lua em Leão

Eu não morro
eu vivo
eu sou a regeneração

Wifredo Lam

 Nu à la chaise - 1942

Mujer con pajara - 1955