lunes, 26 de mayo de 2008

Cruz e Sousa

INEFÁVEL


Nada há que me domine e que me vença
Quando a minha alma mudamente acorda...
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.
Sou como um Réu de celestial sentença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no Silêncio borda
De estrelas todo o céu em que erra e pensa.

Claros, meus olhos tornam-se mais claros
E tudo vejo dos encantos raros
E de outras mais serenas madrugadas!

Todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim porque eu as amo
Na minha alma volteando arrebatadas

domingo, 25 de mayo de 2008

jueves, 22 de mayo de 2008

Raquel Taraborelli

Pintora Impressionista Brasileira


miércoles, 21 de mayo de 2008

Adélia Prado

Impressionista

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

Parâmetro

Deus é mais belo que eu.

E não é jovem.

Isto sim, é consolo.

Explicação de poesia sem ninguém pedir

Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento.


(in Bagagem)

domingo, 18 de mayo de 2008

Chorinho Brasileiro

CHORO DE VIAGEM

Ney Matogrosso e Lucina



Composição: Lucina / Luli

¿ Quién conoce el "chorinho" brasileño ?

Chorinho passado, presente e futuro

O músico e pesquisador Henrique Cazes analisa em artigo inédito a história e as novas perspectivas do tradicional gênero


No ano de 2002 se completa um século da indústria fonográfica no Brasil. Ao longo de todo este tempo o choro esteve presente de uma forma ou de outra e penso que é um bom momento para fazer um balanço dessa relação nem sempre amigável.

Na fase das gravações mecânicas ­ de 1902 até 1927 ­ em termos proporcionais, foi quando mais se gravou choro. Bandas como as da Casa Edison e do Corpo de Bombeiros, solistas como Patápio Silva e José Maria dos Passos, grupos como o Choro Carioca (com o genial oficleide de Irineu de Almeida) e da Chiquinha Gonzaga; gravaram centenas de discos e ajudaram a fixar um repertório e uma forma de interpretar. Esse período é marcado por grande diversidade de formatos, incluindo trios e quartetos de sopro sem base e experiências de solos com instrumentos pouco usuais como a tuba, o bombardino e o hoje em desuso oficleide. É bom esclarecer que o citado oficleide é um instrumento de bocal similar a de um trombone e chaves como as de um sax. Foi o primeiro instrumento usado para fazer os contrapontos na região grave, conhecidos como baixarias.

Apesar de ser considerado um marco na história dos grupos de choro, os Oito Batutas (Pixinguinha, Donga, Nelson Alves, etc) quando comparados com os grupos citados anteriormente, representavam um retrocesso em termos de organização musical. Sorte é que tinham o gênio da flauta e da composição. No fim dos anos 20, Pixinguinha partiu para suas experiências com choros orquestrais e apesar de ter alcançado resultados como Carinhoso e Lamentos , o choro já caminhava para o afunilamento em termos de formato, fixando o "conjunto regional" que marcou a Era do Rádio. O chamado "regional" era um grupo formado por dois ou três violões, cavaquinho, pandeiro e um solista (flauta, bandolim, etc) e era pau pra toda obra. Um grupo que não precisava de arranjo escrito e acompanhava até o que não conhecia.

Os solistas mais importantes dessa época foram o clarinetista e saxofonista Luis Americano e o flautista Benedito Lacerda. O bandolim de Luperce Miranda também brilhou no período, onde apareceu o toque modernizador de Radamés Gnattali, especialmente nas gravações do Trio Carioca ­ com Americano no clarinete e Luciano Perrone na bateria. Para as gravadoras da época os registros chorísticos aproveitavam a mão de obra contratada de solistas e arranjadores, mas não representavam volume comercial expressivo.

O tempo passou e só em meados da década de 40 começaram a surgir novidades realmente positivas. Pixinguinha fez acordo com Benedito Lacerda, passou para o sax e realizou entre 46 e 51 uma preciosa série de gravações. Outra novidade foi o choro tocado por formações influenciadas pelas big-bands americanas como a Orquestra Tabajara e a Orquestra de Fon-Fon. A inclusão de Tico-tico no Fubá em nada menos que cinco filmes americanos e o fato da gravação da organista Ethel Smith ter alcançado o hit parade, davam uma pista que o Choro podia ser algo realmente vendável.

No finzinho de 49 aconteceu o estouro de Brasileirinho e o começo do período de maior relevância comercial para a música e os músicos do choro. Waldir Azevedo na Continental, Jacob do Bandolim na RCA Victor, Garoto na Odeon, Zé Menezes na Sinter, disputavam espaço numa concorrência extremamente produtiva. Num mesmo ano, o de 54, Altamiro Carrilho estourou com o maxixe Rio Antigo e Chiquinho do Acordeon e Garoto arrebentaram com o dobrado São Paulo Quatrocentão. As emissoras de rádio reservavam quartos de hora para seus solistas e os nomes já citados se tornaram nacionalmente conhecidos.

A ascensão da bossa-nova, seguida da jovem guarda e outras ondas, fizeram da década de 60 um período de ocaso para o choro. Para piorar Jacob, o maior líder dessa fase, morreu repentinamente em 69, deixando uma impressão de que o choro estava pela bola sete. O pior é que em 73 foi a vez do maior gênio do estilo, Pixinguinha, ir embora. Quando tudo apontava para baixo veio uma fase que parecia ser de renascimento e que apesar de efêmera, revelou nomes como Joel Nascimento, Déo Rian e Zé da Velha. Dos grupos novos que surgiram nos anos 70 só dois chegaram ao disco Os Carioquinhas e o hoje longevo Galo Preto. Os outros grupos demoraram a amadurecer e quando viram a onda já tinha passado.

Seguiu-se então o período menos fértil em termos fonográficos de toda a história do choro. Os músicos jovens em sua maioria só queriam estudar em Boston e tocar fusion. O começo da década de 80 foi a fase em que tocar choro era quase uma iniciativa suicida.

Passados alguns anos a situação foi mudando. Começou a surgir uma produção fonográfica alternativa, em discos independentes ou através de pequenosa selos, uma novidade no meio fonográfico de então. Posso dizer sem falsa modéstia, que trabalhei arduamente na reconstrução de um espaço fonográfico para a musicalidade chorística. São dessa fase meus primeiros discos de solista, os discos da Orquestra Pixinguinha, da Orquestra de Cordas Brasileiras, a série Sempre com Pixinguinha, Jacob e Radamés, entre vários outros.

Na segunda metade da década passada vimos ressurgir uma parte da discografia em CDs o que ajudou a colocar lenha na fogueira. Os novos grupos que surgiram no período já estrearam com qualidade de produção mais profissional, o que exolica por exemplo a rápida ascensão do Trio Madeira Brasil.

Em 2000 foi a vez de surgir a Acari, primeira gravadora especializada em Choro e que está marcando sua atuação por lançar discos de artistas que não estavam disponíveis como solistas. Por fim chegamos a um fenômeno curioso. Depois de cuspir o choro para fora do mercado nos anos 80, as grandes gravadoras brasileiras começam a redescobrí-lo, normalmente através de produções feitas para o exterior como Bach no Brasil (EMI) e Café Brasil (Teldec-WEA). O sucesso da caixa de três CDs com os registros de Jacob do Bandolim (BMG) encorajou outras empresas e são aguardados produtos semelhantes abordando as gravações de Pixinguinha e Benedito Lacerda, Waldir Azevedo e os anos 50 de Pixinguinha com a Velha Guarda. Quem viver ouvirá.

Henrique Cazes é músico dos mais atuantes na cena instrumental brasileira, produtor, compositor e autor do livro Choro, do Quintal ao Municipal
http://cliquemusic.uol.com.br/br/Resgate/Resgate.asp?Nu_materia=3751

jueves, 15 de mayo de 2008

martes, 13 de mayo de 2008

Wesley Duke Lee

Carlos Drummond de Andrade















No meio do caminho


No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no mei do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.


Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.


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José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, proptesta?
e agora, José?


Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?


E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?


Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?


Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você consasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!


Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

viernes, 9 de mayo de 2008

Ernesto Nazareth - Composição "Odeon" interpretada por Sebastião Tapajós (violonista)

Pianista e compositor brasileiro; participante assíduo de rodas de choro; autor de tangos famosos como Odeon, Brejeiro e Sertaneja.

Clarice Lispector

















A Lucidez Perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade
- essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

jueves, 8 de mayo de 2008

Chiquinha Gonzaga

Pioneira maestrina brasileira, na arte do Choro; autora de um dos maiores clássicos do carnaval: a marcha Ô Abre Alas.

Cora Coralina


Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas, nasceu no estado de Goiás (Goiás Velho) em 1889. Filha de Jacinta Luíza do Couto Brandão Peixoto e do Desembargador Francisco de Paula Lins dos Guimarães. Em 25 de novembro de 1911 deixa Goiás indo morar no interior de São Paulo. Volta para Goiás em 1954, depois de 45 anos.

Cora Coralina era chamada Aninha da Ponte da Lapa. Tendo apenas instrução primária e sendo doceira de profissão.

Publicou seu primeiro livro aos 75 anos de idade. Ficou famosa principalmente quando suas obras chegaram até as mãos de Carlos Drummond de Andrade, quando ela tinha quase 90 anos de idade.

Sua obra se caracteriza pela espontaneidade e pelo retrato que traça do povo do seu Estado, seus costumes e seus sentimentos.

Faleceu em 10 abril de 1985 em Goiânia.

POEMAS:

Aninha e suas pedras

Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Cora Coralina (Outubro, 1981)
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RESSALVA

Versos... não
Poesia... não
um modo diferente de contar velhas histórias

Cora Coralina (Poemas dos Becos de Goiás )

Assim eu vejo a vida

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

Cora Coralina



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domingo, 4 de mayo de 2008

Cordel do Fogo Encantado

Bruna Lombardi

Cecília Meireles














Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar


Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.


O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...


Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.


Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

jueves, 1 de mayo de 2008