martes, 25 de enero de 2011

viernes, 21 de enero de 2011

Manoel de Barros

Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.


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Auto-Retrato Falado


Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão, aves, pessoas humildes, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos.
Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que fui salvo.
Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.
Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.

martes, 11 de enero de 2011

lunes, 10 de enero de 2011

Herculano Neto

isabela boscov não viu o
meu documentário



faço poses
para uma vitrine de tarjas pretas

(recolho a barriga
observo de soslaio)

o reflexo tosco
me diz sem escrúpulos
que tenho prazo de validade
e hora marcada para ser feliz

queria discordar
mas não há argumentos

(CINEMA – 2008)


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CORAÇÃO DESAJEITADO


Derrubando
Tropeçando
Esbarrando
Confundindo.

Até o coração é desajeitado.

Helga Brüning


viernes, 7 de enero de 2011