domingo, 4 de diciembre de 2011

Nei Duclós

Sarro


Sou teu escravo, mas não me tens cativo
e sendo minha não serás meu gado
proprietária da graça que te faz rainha
impões com a beleza o que me dá vontade

Perguntam como faço quando estás sozinha
e cuidas do teu corpo, extrema divindade
digo que me deito à espreita da vinha
apogeu da festa sem papéis trocados

A não ser que o curral onde o desejo esgrime
abrigue uma transgressão de personagens
e viramos bichos farejando o orgasmo

A submissão se exime e pede licença
deixa de ser tortura, exílio e desavença
e se transforma no sorvo de infinito sarro



Ruptura


Quero que fiques presa à minha pele
no grude que o mel impregna de doçura
e não te afastes mesmo que haja bruma
e emerjas teu corpo de gozar profundo

Fique assim de cabeça no meu ombro
a respirar o sono das campânulas
que vibram sem soar na relva fria
onde vivemos em plátanos de assombro

Jamais cansamos desse deitar em cântaro
bebida de solar em tempo sem espinhos
que inventamos pelo amor, doce ruptura

Ninguém resiste à imposição da chama
que ferve em nós como combustível
máquina de tesão em corações na chuva



Pecado


É pecado dizer não à natureza
matar o mar com toda sorte de impureza
encher a praia de concreto e colchão velho
Espalhar lixo até em raiz de castanheira

É tão óbvio que constrange o verso
Impossível conviver longe da trilha
do choque bom no verão da cachoeira
ou do assombro no paredão da serra

Este mundo não foi feito sem projeto
Deus desenha e gigantes se concentram
na alquimia das águas e das pedras

Temos paisagem porque existe o Arquiteto
Não precisa destruir porque é um fato
fazermos parte do eterno só num trecho