lunes, 24 de octubre de 2011

Elisa Lucinda


Viver de Poesia



Há tanto o que fazer com a poesia

que eu quase não dou conta das tarefas.

Trazê-la em estado de circulação

é mais que assumi-la sangue

de tanto me afundar no mangue

decorei o caminho do emergir

a volta do desmaio

do cair em si em mi

e mais todas as notas do percurso e escola.

Há tanto o que transar com a poesia

que tenho estado com ela sem nenhum projeto de anticoncepção

falá-la então é o VT desse sexo explícito de procriação

com direito a prazer e gozo em cada dobra de rima

Trazendo-a em estado vivo exerço a alquimia

de atropelar o efêmero

com o doce trator da perpetuação

agarrada aos motivos eternos

dos versos que eu escrevi

latejante exposição em estado de música e fotografia

é o que faço aqui

e aqui chego com meus cães:

sigo tudo de acordo com as ordens do Deus poema

que é o fiel domador.



Corro, sento, busco ossos

e inda faço gracinhas

elefante, golfinho, leão, macaquinho,

sopro, tambor, teclado, cavaquinho

vou bebendo vinho.

Há tanto o que fazer com a poesia

Há tanto o que namorar com a poesia

Há tanto o que compreender com a poesia

Há tanto o que viajar com a poesia

que eu com esse excesso de bagagem

passo na cara do vigia

de mãos vazias.

Mas tamanha é a magia

que toda a muamba que ninguém via

agora se esparrama no palco:

ela rainha, galinha

sambando no pedaço,

minha rainha poesia

e de salto alto.



(Rio, verão de 1991)





2 comentarios:

Wilson Torres Nanini dijo...

Cynthia,

Elisa prova que poesia é rotina: está conosco o dia todo. Viver de poesia é estado de graça.

Abraços!

Cynthia Lopes dijo...

Com certeza, Wilson!
bjs