
martes, 27 de diciembre de 2011
domingo, 4 de diciembre de 2011
Nei Duclós
Sarro
Sou teu escravo, mas não me tens cativo
e sendo minha não serás meu gado
proprietária da graça que te faz rainha
impões com a beleza o que me dá vontade
Perguntam como faço quando estás sozinha
e cuidas do teu corpo, extrema divindade
digo que me deito à espreita da vinha
apogeu da festa sem papéis trocados
A não ser que o curral onde o desejo esgrime
abrigue uma transgressão de personagens
e viramos bichos farejando o orgasmo
A submissão se exime e pede licença
deixa de ser tortura, exílio e desavença
e se transforma no sorvo de infinito sarro
Ruptura
Quero que fiques presa à minha pele
no grude que o mel impregna de doçura
e não te afastes mesmo que haja bruma
e emerjas teu corpo de gozar profundo
Fique assim de cabeça no meu ombro
a respirar o sono das campânulas
que vibram sem soar na relva fria
onde vivemos em plátanos de assombro
Jamais cansamos desse deitar em cântaro
bebida de solar em tempo sem espinhos
que inventamos pelo amor, doce ruptura
Ninguém resiste à imposição da chama
que ferve em nós como combustível
máquina de tesão em corações na chuva
Pecado
É pecado dizer não à natureza
matar o mar com toda sorte de impureza
encher a praia de concreto e colchão velho
Espalhar lixo até em raiz de castanheira
É tão óbvio que constrange o verso
Impossível conviver longe da trilha
do choque bom no verão da cachoeira
ou do assombro no paredão da serra
Este mundo não foi feito sem projeto
Deus desenha e gigantes se concentram
na alquimia das águas e das pedras
Temos paisagem porque existe o Arquiteto
Não precisa destruir porque é um fato
fazermos parte do eterno só num trecho
Sou teu escravo, mas não me tens cativo
e sendo minha não serás meu gado
proprietária da graça que te faz rainha
impões com a beleza o que me dá vontade
Perguntam como faço quando estás sozinha
e cuidas do teu corpo, extrema divindade
digo que me deito à espreita da vinha
apogeu da festa sem papéis trocados
A não ser que o curral onde o desejo esgrime
abrigue uma transgressão de personagens
e viramos bichos farejando o orgasmo
A submissão se exime e pede licença
deixa de ser tortura, exílio e desavença
e se transforma no sorvo de infinito sarro
Ruptura
Quero que fiques presa à minha pele
no grude que o mel impregna de doçura
e não te afastes mesmo que haja bruma
e emerjas teu corpo de gozar profundo
Fique assim de cabeça no meu ombro
a respirar o sono das campânulas
que vibram sem soar na relva fria
onde vivemos em plátanos de assombro
Jamais cansamos desse deitar em cântaro
bebida de solar em tempo sem espinhos
que inventamos pelo amor, doce ruptura
Ninguém resiste à imposição da chama
que ferve em nós como combustível
máquina de tesão em corações na chuva
Pecado
É pecado dizer não à natureza
matar o mar com toda sorte de impureza
encher a praia de concreto e colchão velho
Espalhar lixo até em raiz de castanheira
É tão óbvio que constrange o verso
Impossível conviver longe da trilha
do choque bom no verão da cachoeira
ou do assombro no paredão da serra
Este mundo não foi feito sem projeto
Deus desenha e gigantes se concentram
na alquimia das águas e das pedras
Temos paisagem porque existe o Arquiteto
Não precisa destruir porque é um fato
fazermos parte do eterno só num trecho
miércoles, 16 de noviembre de 2011
miércoles, 2 de noviembre de 2011
Carlos Machado
Anatomias
anatomia de coisas
desnudar
o pássaro de vidro
e ver em seu lado
oculto
o outro lado
de seu vulto
dissecar
vozes
sombras descalças
e perquirir
a substância
escassa que principia
na polpa
branca do dia
flagrar a ânsia
do relógio
e a cadência
dessa máquina
humana
fotografar
a permanência
da chama
anatomia do gesto
dobrar a esquina
de mim mesmo
olhar pra trás
e ainda
enxergar
o resto de
meu gesto
tonto
Pássaro de Vidro (2)
quanto mais escancaras
teu íntimo de vidro
quanto mais descortinas
o avesso dos sentidos
mais o que revelas
deixas escondido.
Pássaro de Vidro (3)
o pássaro é cego
e cego é quem
se agita
em seu espaço
ambíguo
esse espaço
de incessante
tarde nua
onde o voo
risca um traço
branco
de vidro no vidro
anatomia de coisas
desnudar
o pássaro de vidro
e ver em seu lado
oculto
o outro lado
de seu vulto
dissecar
vozes
sombras descalças
e perquirir
a substância
escassa que principia
na polpa
branca do dia
flagrar a ânsia
do relógio
e a cadência
dessa máquina
humana
fotografar
a permanência
da chama
anatomia do gesto
dobrar a esquina
de mim mesmo
olhar pra trás
e ainda
enxergar
o resto de
meu gesto
tonto
Pássaro de Vidro (2)
quanto mais escancaras
teu íntimo de vidro
quanto mais descortinas
o avesso dos sentidos
mais o que revelas
deixas escondido.
Pássaro de Vidro (3)
o pássaro é cego
e cego é quem
se agita
em seu espaço
ambíguo
esse espaço
de incessante
tarde nua
onde o voo
risca um traço
branco
de vidro no vidro
lunes, 31 de octubre de 2011
31 de outubro - Aniversário do poeta Drummond
Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
(Carlos Drummond de Andrade)
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
(Carlos Drummond de Andrade)
martes, 25 de octubre de 2011
lunes, 24 de octubre de 2011
Elisa Lucinda
Viver de Poesia
Há tanto o que fazer com a poesia
que eu quase não dou conta das tarefas.
Trazê-la em estado de circulação
é mais que assumi-la sangue
de tanto me afundar no mangue
decorei o caminho do emergir
a volta do desmaio
do cair em si em mi
e mais todas as notas do percurso e escola.
Há tanto o que transar com a poesia
que tenho estado com ela sem nenhum projeto de anticoncepção
falá-la então é o VT desse sexo explícito de procriação
com direito a prazer e gozo em cada dobra de rima
Trazendo-a em estado vivo exerço a alquimia
de atropelar o efêmero
com o doce trator da perpetuação
agarrada aos motivos eternos
dos versos que eu escrevi
latejante exposição em estado de música e fotografia
é o que faço aqui
e aqui chego com meus cães:
sigo tudo de acordo com as ordens do Deus poema
que é o fiel domador.
Corro, sento, busco ossos
e inda faço gracinhas
elefante, golfinho, leão, macaquinho,
sopro, tambor, teclado, cavaquinho
vou bebendo vinho.
Há tanto o que fazer com a poesia
Há tanto o que namorar com a poesia
Há tanto o que compreender com a poesia
Há tanto o que viajar com a poesia
que eu com esse excesso de bagagem
passo na cara do vigia
de mãos vazias.
Mas tamanha é a magia
que toda a muamba que ninguém via
agora se esparrama no palco:
ela rainha, galinha
sambando no pedaço,
minha rainha poesia
e de salto alto.
(Rio, verão de 1991)
martes, 11 de octubre de 2011
viernes, 7 de octubre de 2011
domingo, 2 de octubre de 2011
miércoles, 28 de septiembre de 2011
lunes, 19 de septiembre de 2011
Damário da Cruz
Previsão metereológica
Nenhum
dia é triste!
Nós é que chovemos
na hora errada.
In Segredo das Pipas
****************
Estrela distraída
Longe de Miramar
e Havana cria estrelas.
Se não me reconheço
como voltar a Miramar?
Com luz nenhuma
na cegueira de estrangeiro?
Se não me reconheço
como voltar a mim?
Com espelhos de crianças
erguidos para a lua?
Estou só...
longe de Miramar
e a escuridão pinta o céu.
In Segredo das Pipas
**********************
Navegante
De mim
exijam pouco...
Pois o tempo
que me resta
é louca busca
de como atravessar
o Sol...
In Segredo das Pipas
Nenhum
dia é triste!
Nós é que chovemos
na hora errada.
In Segredo das Pipas
****************
Estrela distraída
Longe de Miramar
e Havana cria estrelas.
Se não me reconheço
como voltar a Miramar?
Com luz nenhuma
na cegueira de estrangeiro?
Se não me reconheço
como voltar a mim?
Com espelhos de crianças
erguidos para a lua?
Estou só...
longe de Miramar
e a escuridão pinta o céu.
In Segredo das Pipas
**********************
Navegante
De mim
exijam pouco...
Pois o tempo
que me resta
é louca busca
de como atravessar
o Sol...
In Segredo das Pipas
jueves, 15 de septiembre de 2011
viernes, 9 de septiembre de 2011
Érico Veríssimo
O Tempo e o Vento - resumo e análise da obra de Erico Verissimo

Composta de três romances – O Continente, O Retrato e O Arquipélago –, a obra traz acontecimentos e histórias de dimensões épicas, que narram 200 anos do processo de formação do estado do Rio Grande do Sul.
Se uma das características da epopéia é narrar a história de um povo, a obra O Tempo e o Vento, escrita por Erico Verissimo, certamente possui esse traço épico. Ela foi publicada em três romances: O Continente, O Retrato e O Arquipélago – os dois primeiros possuem dois volumes, enquanto o terceiro foi dividido em três. A trilogia narra o processo de formação do estado do Rio Grande do Sul, misturando ao elemento ficcional, preponderante em toda a obra, dados e personalidades históricos. Os romances acabam por recriar 200 anos da história gaúcha, de 1745 a 1945, tempos marcados pelo poder das oligarquias, por guerras internas e guerras de fronteira.
O espaço em que a narrativa se desenvolve é a cidade fictícia de Santa Fé. O Tempo e o Vento faz parte da segunda fase modernista, a fase regionalista. Entre os escritores desse período, Erico Verissimo destaca-se por ser um dos poucos que retrataram a Região Sul do país em sua obra. Quando se fala em regionalismo, normalmente se associam nomes como Jorge Amado, Graciliano Ramos e José Lins do Rego, escritores que criaram suas narrativas com base no modo de vida e no sofrimento dos nordestinos.
NARRADOR
O foco narrativo está – com poucas exceções, como a do capítulo “Do Diário de Silvia” – em terceira pessoa. O narrador manifesta-se discretamente no decorrer da obra, lançando sobre as ações e os sentimentos dos personagens um olhar arguto e bastante mordaz.
UM CERTO CAPITÃO RODRIGO
Alguns capítulos dos três romances merecem destaque, seja pelo apuro estilístico do autor, seja pela temática desenvolvida. “Um Certo Capitão Rodrigo”, presente na primeira parte da trilogia, O Continente, merece essa atenção especial. O capítulo tem o mérito de retratar, ou recriar, a imagem do homem gaúcho forte, bravo, destemido, na figura do personagem principal: capitão Rodrigo Cambará.
A cena da chegada do capitão Rodrigo à cidade de Santa Fé já é suficiente para passar essa idéia do homem gaúcho, tanto pelas vestimentas como pela personalidade:
“Toda a gente tinha achado estranha a maneira como o capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde, com o chapéu de barbicacho puxado para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida, e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Devia andar lá pelo meio da casa dos trinta, montava um alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas de prata e o busto musculoso apertado num dólmã militar azul, com gola vermelha e botões de metal.
Tinha um violão a tiracolo; sua espada, apresilhada aos arreios, rebrilhava ao sol daquela tarde de outubro de 1828 e o lenço encarnado que trazia ao pescoço esvoaçava no ar como uma bandeira. Apeou na frente da venda do Nicolau, amarrou o alazão no tronco dum cinamomo, entrou arrastando as esporas, batendo na coxa direita com o rebenque, e foi logo gritando, assim com ar de velho conhecido:
– Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho!
– Pois dê”
A descrição do valente e imponente capitão entrando no pacato vilarejo, seguida do desaforado cumprimento da chegada, antecipa o incômodo que essa figura produzirá em tal espaço. O dono da resposta curta e grossa que aceita o confronto, porém, não se tornará seu antagonista na história. Será seu futuro cunhado, Juvenal Terra.
A importância desse capítulo está no fato de que – além de apresentar a figura típica do gaúcho encarnada pelo capitão Rodrigo – mostra a união dos dois grandes sobrenomes que marcarão, na obra, a formação do estado do Rio Grande do Sul: os Terras e os Cambarás.
Apaixonando-se perdidamente por Bibiana Terra, o capitão a conquista após minar sua resistência e a de sua família, além de ter vencido em um duelo o pretendente rico de Bibiana: Bento Amaral, filho do coronel Ricardo Amaral. Essa união representa, estruturalmente, o eixo das duas famílias que irão protagonizar toda a trilogia.
O carisma de Rodrigo Cambará acaba por conquistar, de fato, não apenas Bibiana Terra, mas vários moradores de Santa Fé, como o padre Lara e Juvenal Terra, com quem monta um negócio. A figura do capitão, no entanto, distancia-se em todos os momentos do perfil do bom moço. Mesmo depois de casado com Bibiana, Rodrigo Cambará mantém o gosto pelo carteado, pela bebida e, principalmente, por outras mulheres.
O antagonista de Rodrigo Cambará é Bento Amaral, com o qual trava uma luta atrás do muro do cemitério, após um desentendimento em uma festa de casamento. Nesse confronto, o filho do coronel, desonrando a batalha, utiliza uma arma de fogo contra o capitão.
Antes de dar o tiro à traição, Amaral quase recebe a marca do capitão Rodrigo: um “R” na testa. Surpreendido pelo disparo, no entanto, o capitão só tem a possibilidade de talhar um “P”. Falta-lhe tempo para completar a letra “R”. A cena final desse capítulo é a invasão do casarão da família Amaral. Nesse episódio, morre o capitão Rodrigo Cambará, deixando órfão o filho Bolívar:
“O tiroteio começou. A princípio ralo, depois mais cerrado. O padre olhava para seu velho relógio: uma da madrugada. Apagou a vela e ficou escutando. Havia momentos de trégua, depois de novo recomeçavam os tiros.
E assim o combate continuou madrugada adentro. Finalmente se fez um longo silêncio. As pálpebras do padre caíram e ele ficou num estado de madorna, que foi mais uma escura agonia do que repouso e esquecimento. O dia raiava quando lhe vieram bater à porta. Foi abrir. Era um oficial dos farrapos cuja barba negra contrastava com a palidez esverdinhada do rosto. Tinha os olhos no fundo e foi com a voz cansada que ele disse:
– Padre, tomamos o casarão.
Mas mataram o capitão Rodrigo – acrescentou, chorando como uma criança.
– Mataram?
O vigário sentiu como que um soco em pleno peito e uma súbita vertigem. Ficou olhando para aquele homem que nunca vira e que agora ali estava, à luz da madrugada, a fitá-lo como se esperasse dele, sacerdote, um milagre que fizesse ressuscitar Rodrigo.
– Tomamos o casarão de assalto. O capitão foi dos primeiros a pular a janela. – Calou-se, como se lhe faltasse fôlego.
– Uma bala no peito...”
O ESPAÇO DE SANTA FÉ
Em “Um Certo Capitão Rodrigo”, o espaço marca de forma muito evidente uma rígida separação, de acordo com a classe social dos personagens.
O espaço nessa narrativa funciona como índice social, que divide os personagens do capítulo. O casarão representa o poder local, enquanto a venda do Nicolau e o terreiro da casa de Joca Rodrigues, entre outros pontos, representam o espaço das classes mais pobres.
Essa repartição fica clara quando se nota que os dois confrontos da narrativa – o primeiro entre Bento Amaral e Rodrigo Cambará; o segundo, na tomada do casarão – se desenvolvem com a invasão, indevida, desses espaços.
No confronto entre Rodrigo e Amaral, este último estava em um ambiente popular, o que era impróprio, segundo os valores vigentes. Esse fato favoreceu o encontro com seu oponente. Já a invasão ao casarão da família Amaral acabou por representar o conflito final.
CONCLUSÃO
A trilogia O Tempo e o Vento é a grande obra de Erico Verissimo e uma das mais importantes da segunda fase modernista.
Em relação a seu momento histórico, tem o diferencial de tratar de temas sobre o sul do país, divulgando costumes e tradições de uma região até então abandonada pelos enredos dos escritores regionalistas mais conhecidos, que, em sua imensa maioria, construíram narrativas sobre a Região Nordeste.
Texto retirado do site: http://guiadoestudante.abril.com.br/estude/literatura/materia_419203.shtml
Composta de três romances – O Continente, O Retrato e O Arquipélago –, a obra traz acontecimentos e histórias de dimensões épicas, que narram 200 anos do processo de formação do estado do Rio Grande do Sul.
Se uma das características da epopéia é narrar a história de um povo, a obra O Tempo e o Vento, escrita por Erico Verissimo, certamente possui esse traço épico. Ela foi publicada em três romances: O Continente, O Retrato e O Arquipélago – os dois primeiros possuem dois volumes, enquanto o terceiro foi dividido em três. A trilogia narra o processo de formação do estado do Rio Grande do Sul, misturando ao elemento ficcional, preponderante em toda a obra, dados e personalidades históricos. Os romances acabam por recriar 200 anos da história gaúcha, de 1745 a 1945, tempos marcados pelo poder das oligarquias, por guerras internas e guerras de fronteira.
O espaço em que a narrativa se desenvolve é a cidade fictícia de Santa Fé. O Tempo e o Vento faz parte da segunda fase modernista, a fase regionalista. Entre os escritores desse período, Erico Verissimo destaca-se por ser um dos poucos que retrataram a Região Sul do país em sua obra. Quando se fala em regionalismo, normalmente se associam nomes como Jorge Amado, Graciliano Ramos e José Lins do Rego, escritores que criaram suas narrativas com base no modo de vida e no sofrimento dos nordestinos.
NARRADOR
O foco narrativo está – com poucas exceções, como a do capítulo “Do Diário de Silvia” – em terceira pessoa. O narrador manifesta-se discretamente no decorrer da obra, lançando sobre as ações e os sentimentos dos personagens um olhar arguto e bastante mordaz.
UM CERTO CAPITÃO RODRIGO
Alguns capítulos dos três romances merecem destaque, seja pelo apuro estilístico do autor, seja pela temática desenvolvida. “Um Certo Capitão Rodrigo”, presente na primeira parte da trilogia, O Continente, merece essa atenção especial. O capítulo tem o mérito de retratar, ou recriar, a imagem do homem gaúcho forte, bravo, destemido, na figura do personagem principal: capitão Rodrigo Cambará.
A cena da chegada do capitão Rodrigo à cidade de Santa Fé já é suficiente para passar essa idéia do homem gaúcho, tanto pelas vestimentas como pela personalidade:
“Toda a gente tinha achado estranha a maneira como o capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde, com o chapéu de barbicacho puxado para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida, e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Devia andar lá pelo meio da casa dos trinta, montava um alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas de prata e o busto musculoso apertado num dólmã militar azul, com gola vermelha e botões de metal.
Tinha um violão a tiracolo; sua espada, apresilhada aos arreios, rebrilhava ao sol daquela tarde de outubro de 1828 e o lenço encarnado que trazia ao pescoço esvoaçava no ar como uma bandeira. Apeou na frente da venda do Nicolau, amarrou o alazão no tronco dum cinamomo, entrou arrastando as esporas, batendo na coxa direita com o rebenque, e foi logo gritando, assim com ar de velho conhecido:
– Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho!
– Pois dê”
A descrição do valente e imponente capitão entrando no pacato vilarejo, seguida do desaforado cumprimento da chegada, antecipa o incômodo que essa figura produzirá em tal espaço. O dono da resposta curta e grossa que aceita o confronto, porém, não se tornará seu antagonista na história. Será seu futuro cunhado, Juvenal Terra.
A importância desse capítulo está no fato de que – além de apresentar a figura típica do gaúcho encarnada pelo capitão Rodrigo – mostra a união dos dois grandes sobrenomes que marcarão, na obra, a formação do estado do Rio Grande do Sul: os Terras e os Cambarás.
Apaixonando-se perdidamente por Bibiana Terra, o capitão a conquista após minar sua resistência e a de sua família, além de ter vencido em um duelo o pretendente rico de Bibiana: Bento Amaral, filho do coronel Ricardo Amaral. Essa união representa, estruturalmente, o eixo das duas famílias que irão protagonizar toda a trilogia.
O carisma de Rodrigo Cambará acaba por conquistar, de fato, não apenas Bibiana Terra, mas vários moradores de Santa Fé, como o padre Lara e Juvenal Terra, com quem monta um negócio. A figura do capitão, no entanto, distancia-se em todos os momentos do perfil do bom moço. Mesmo depois de casado com Bibiana, Rodrigo Cambará mantém o gosto pelo carteado, pela bebida e, principalmente, por outras mulheres.
O antagonista de Rodrigo Cambará é Bento Amaral, com o qual trava uma luta atrás do muro do cemitério, após um desentendimento em uma festa de casamento. Nesse confronto, o filho do coronel, desonrando a batalha, utiliza uma arma de fogo contra o capitão.
Antes de dar o tiro à traição, Amaral quase recebe a marca do capitão Rodrigo: um “R” na testa. Surpreendido pelo disparo, no entanto, o capitão só tem a possibilidade de talhar um “P”. Falta-lhe tempo para completar a letra “R”. A cena final desse capítulo é a invasão do casarão da família Amaral. Nesse episódio, morre o capitão Rodrigo Cambará, deixando órfão o filho Bolívar:
“O tiroteio começou. A princípio ralo, depois mais cerrado. O padre olhava para seu velho relógio: uma da madrugada. Apagou a vela e ficou escutando. Havia momentos de trégua, depois de novo recomeçavam os tiros.
E assim o combate continuou madrugada adentro. Finalmente se fez um longo silêncio. As pálpebras do padre caíram e ele ficou num estado de madorna, que foi mais uma escura agonia do que repouso e esquecimento. O dia raiava quando lhe vieram bater à porta. Foi abrir. Era um oficial dos farrapos cuja barba negra contrastava com a palidez esverdinhada do rosto. Tinha os olhos no fundo e foi com a voz cansada que ele disse:
– Padre, tomamos o casarão.
Mas mataram o capitão Rodrigo – acrescentou, chorando como uma criança.
– Mataram?
O vigário sentiu como que um soco em pleno peito e uma súbita vertigem. Ficou olhando para aquele homem que nunca vira e que agora ali estava, à luz da madrugada, a fitá-lo como se esperasse dele, sacerdote, um milagre que fizesse ressuscitar Rodrigo.
– Tomamos o casarão de assalto. O capitão foi dos primeiros a pular a janela. – Calou-se, como se lhe faltasse fôlego.
– Uma bala no peito...”
O ESPAÇO DE SANTA FÉ
Em “Um Certo Capitão Rodrigo”, o espaço marca de forma muito evidente uma rígida separação, de acordo com a classe social dos personagens.
O espaço nessa narrativa funciona como índice social, que divide os personagens do capítulo. O casarão representa o poder local, enquanto a venda do Nicolau e o terreiro da casa de Joca Rodrigues, entre outros pontos, representam o espaço das classes mais pobres.
Essa repartição fica clara quando se nota que os dois confrontos da narrativa – o primeiro entre Bento Amaral e Rodrigo Cambará; o segundo, na tomada do casarão – se desenvolvem com a invasão, indevida, desses espaços.
No confronto entre Rodrigo e Amaral, este último estava em um ambiente popular, o que era impróprio, segundo os valores vigentes. Esse fato favoreceu o encontro com seu oponente. Já a invasão ao casarão da família Amaral acabou por representar o conflito final.
CONCLUSÃO
A trilogia O Tempo e o Vento é a grande obra de Erico Verissimo e uma das mais importantes da segunda fase modernista.
Em relação a seu momento histórico, tem o diferencial de tratar de temas sobre o sul do país, divulgando costumes e tradições de uma região até então abandonada pelos enredos dos escritores regionalistas mais conhecidos, que, em sua imensa maioria, construíram narrativas sobre a Região Nordeste.
Texto retirado do site: http://guiadoestudante.abril.com.br/estude/literatura/materia_419203.shtml
lunes, 22 de agosto de 2011
viernes, 12 de agosto de 2011
jueves, 21 de julio de 2011
Lau Siqueira
nuvem outra
viver além do verbo
exercício de poucos
extensão que migra
extermínio dos ritos
passo fora do domínio
mergulhado no ilimite
algo imerso na pele
- turvo e impreciso
(poema vermelho)
*******************
eter na mente
milhas e milhas contidas
nos ombros arqueados
sem os ritos do horizonte
era como se fosses
um vento leve
em plena tempestade
colhendo as folhas secas
para o abrigo dos pássaros
a vida cumprida aos talhos
na pele desvestida
do tempo
caminho áspero
e sem volta
eterno ir e vir
de luas e sóis
num sumidouro de ecos
do silêncio
(poema vermelho)
viver além do verbo
exercício de poucos
extensão que migra
extermínio dos ritos
passo fora do domínio
mergulhado no ilimite
algo imerso na pele
- turvo e impreciso
(poema vermelho)
*******************
eter na mente
milhas e milhas contidas
nos ombros arqueados
sem os ritos do horizonte
era como se fosses
um vento leve
em plena tempestade
colhendo as folhas secas
para o abrigo dos pássaros
a vida cumprida aos talhos
na pele desvestida
do tempo
caminho áspero
e sem volta
eterno ir e vir
de luas e sóis
num sumidouro de ecos
do silêncio
(poema vermelho)
miércoles, 22 de junio de 2011
viernes, 3 de junio de 2011
Gilberto Mendonça Teles
O Anjo
Na boca da noite,
na língua da rua,
tu me chamas do oco
de uma sombra nua.
No riso do vento,
no olho da chuva,
me acenas de dentro
de uma coisa turva.
Envolves meu corpo
no teu mundo de água;
cada vez sou outro
noutro corpo e alma.
Conheço teus passos,
teus gestos conheço;
sobre os meus fracassos
vibra o teu começo.
Sobre o meu silêncio
cresce o teu ruído,
sobre a minha angústia
voa o teu segredo
e acima da noite,
sobre o tempo vivo,
paira o desespero
de teu braço erguido.
(do livro "No escuro da pronúncia")
Na boca da noite,
na língua da rua,
tu me chamas do oco
de uma sombra nua.
No riso do vento,
no olho da chuva,
me acenas de dentro
de uma coisa turva.
Envolves meu corpo
no teu mundo de água;
cada vez sou outro
noutro corpo e alma.
Conheço teus passos,
teus gestos conheço;
sobre os meus fracassos
vibra o teu começo.
Sobre o meu silêncio
cresce o teu ruído,
sobre a minha angústia
voa o teu segredo
e acima da noite,
sobre o tempo vivo,
paira o desespero
de teu braço erguido.
(do livro "No escuro da pronúncia")
martes, 31 de mayo de 2011
Oswald de Andrade
BALADA DO ESPLANADA
Ontem à noite
Eu procurei
Ver se aprendia
Como é que se fazia
Uma balada
Antes de ir
Pro meu hotel.
É que este
Coração
Já se cansou
De viver só
E quer então
Morar contigo
No Esplanada.
Eu qu'ria
Poder
Encher
Este papel
De versos lindos
É tão distinto
Ser menestrel
No futuro
As gerações
Que passariam
Diriam
É o hotel
Do menestrel
Pra m'inspirar
Abro a janela
Como um jornal
Vou fazer
A balada
Do Esplanada
E ficar sendo
O menestrel
De meu hotel
Mas não há poesia
Num hotel
Mesmo sendo
'Splanada
Ou Grand-Hotel
Há poesia
Na dor
Na flor
No beija-flor
No elevador
Oferta
Quem sabe
Se algum dia
Traria
O elevador
Até aqui
O teu amor
Ontem à noite
Eu procurei
Ver se aprendia
Como é que se fazia
Uma balada
Antes de ir
Pro meu hotel.
É que este
Coração
Já se cansou
De viver só
E quer então
Morar contigo
No Esplanada.
Eu qu'ria
Poder
Encher
Este papel
De versos lindos
É tão distinto
Ser menestrel
No futuro
As gerações
Que passariam
Diriam
É o hotel
Do menestrel
Pra m'inspirar
Abro a janela
Como um jornal
Vou fazer
A balada
Do Esplanada
E ficar sendo
O menestrel
De meu hotel
Mas não há poesia
Num hotel
Mesmo sendo
'Splanada
Ou Grand-Hotel
Há poesia
Na dor
Na flor
No beija-flor
No elevador
Oferta
Quem sabe
Se algum dia
Traria
O elevador
Até aqui
O teu amor
viernes, 27 de mayo de 2011
lunes, 18 de abril de 2011
Régis Bonvicino
Para Darly
À maneira de Creeley
Nada para um homem sujo
só água numa cuba
sequer um olhar
mãos sujas
aroma de
amantes talvez
ou além
alguma coisa como areia
para esfregar
com os dez dedos e ter
ao cabo —
o corpo dessa mulher
**********************
COM A BRUNA
(ela aos 8 anos)
Ao atravessar o parque
folhas sob os pés
pisando, em mim, o outono
***************************
O QUARTO
o quarto
cheio de espelhos
partidos
os cacos
de vidro
apinhados no cérebro
l
perseguem sonhos
cortam
na hora do sexo
De Más companhias, 1987
**************************
VARIAÇÕES
Casa de asa da noite
Que pode ser a morte
outro destempo ímóvel
marés da lua incógnitas
eco das ondas. Morta
a podre língua amante
e seus ramos de sombra
Até que se abra a porta
De Ossos de borboleta, 1996
À maneira de Creeley
Nada para um homem sujo
só água numa cuba
sequer um olhar
mãos sujas
aroma de
amantes talvez
ou além
alguma coisa como areia
para esfregar
com os dez dedos e ter
ao cabo —
o corpo dessa mulher
**********************
COM A BRUNA
(ela aos 8 anos)
Ao atravessar o parque
folhas sob os pés
pisando, em mim, o outono
***************************
O QUARTO
o quarto
cheio de espelhos
partidos
os cacos
de vidro
apinhados no cérebro
l
perseguem sonhos
cortam
na hora do sexo
De Más companhias, 1987
**************************
VARIAÇÕES
Casa de asa da noite
Que pode ser a morte
outro destempo ímóvel
marés da lua incógnitas
eco das ondas. Morta
a podre língua amante
e seus ramos de sombra
Até que se abra a porta
De Ossos de borboleta, 1996
domingo, 17 de abril de 2011
Beatriz Barata
Do livro "Caminho de volta" (2009)
CANÇÃO
Eu pinto com cores
as coisas que vejo.
Até mesmo as dores
eu pinto com cores.
E assim vou pintando
deserto e desejo.
Vivendo e amando
o que sinto e o que vejo.
CANÇÃO
Eu pinto com cores
as coisas que vejo.
Até mesmo as dores
eu pinto com cores.
E assim vou pintando
deserto e desejo.
Vivendo e amando
o que sinto e o que vejo.
Priscila Lopes
Do livro "Uns traços,todos imponderáveis" (2010)
Anotações
Três
Comprei um gato pra me fazer companhia. Ele não me esquenta a noite.
Ele não vem quando eu chamo. Ele não se apega a mim nem sequer à minha
casa - já tive que ir buscá-lo duas vezes na vizinha. Era melhor ter
ficado com o outro. Menos peludo.
**********
Mais umas de amor
Quando me dou conta, lá estou, contemplando paredes brancas.
Só não recorri à auto-ajuda porque entender é pesado demais. Já me basta
acreditar que tudo existe.
Tenho ainda dois desejos. Um deles é que você me tire daqui. O outro muitas
vezes esqueço.
Anotações
Três
Comprei um gato pra me fazer companhia. Ele não me esquenta a noite.
Ele não vem quando eu chamo. Ele não se apega a mim nem sequer à minha
casa - já tive que ir buscá-lo duas vezes na vizinha. Era melhor ter
ficado com o outro. Menos peludo.
**********
Mais umas de amor
Quando me dou conta, lá estou, contemplando paredes brancas.
Só não recorri à auto-ajuda porque entender é pesado demais. Já me basta
acreditar que tudo existe.
Tenho ainda dois desejos. Um deles é que você me tire daqui. O outro muitas
vezes esqueço.
Elvé Monteiro de Castro
Do livro "Pele & Papel" (2007)
Berreiro
Meus poemas, eu canto.
Canto, falo e grito.
A hacanéia nitre
e o anho é que bale.
Meu poema eu berro,
urro. E perco a voz.
Nada, nada existe ou faz
com que eu me cale.
******************
Magia
Seus cabelos são fios de seda, macios,
e seus olhos, vermelhos e verdes de fogo,
e sua pele, relva de pelos cor de pêssego,
e os seios? ah, os seios - pomos de ouro puro.
Minha amada é uma deusa vestida de nada
e um véu de renda branca, que baila no vento.
Esse amor eu procuro. Se não acho, invento.
Berreiro
Meus poemas, eu canto.
Canto, falo e grito.
A hacanéia nitre
e o anho é que bale.
Meu poema eu berro,
urro. E perco a voz.
Nada, nada existe ou faz
com que eu me cale.
******************
Magia
Seus cabelos são fios de seda, macios,
e seus olhos, vermelhos e verdes de fogo,
e sua pele, relva de pelos cor de pêssego,
e os seios? ah, os seios - pomos de ouro puro.
Minha amada é uma deusa vestida de nada
e um véu de renda branca, que baila no vento.
Esse amor eu procuro. Se não acho, invento.
Lília Diniz
Do livro "Miolo de pote da cacimba de beber" (2006)
Descuido de poeta
aos Ipês Amarelos
Por razão de encantamento
de hoje em diante
meu sorriso será
doidamente amarelo
como as flores de agosto
que hipnotizam
irradiando versos luminosos
ofuscando os que ignoram
a poesia incandescente
e arrebatam
as almas descuidadas
*******************
Cantiga de ninar
"luar, luar pega essa menina
e me ajuda a criar"
Elevada em
apelos poéticos
ao céu da tua cabeça
fui entregue à
deusa das
noites sertanejas
Descuido de poeta
aos Ipês Amarelos
Por razão de encantamento
de hoje em diante
meu sorriso será
doidamente amarelo
como as flores de agosto
que hipnotizam
irradiando versos luminosos
ofuscando os que ignoram
a poesia incandescente
e arrebatam
as almas descuidadas
*******************
Cantiga de ninar
"luar, luar pega essa menina
e me ajuda a criar"
Elevada em
apelos poéticos
ao céu da tua cabeça
fui entregue à
deusa das
noites sertanejas
Wilson Guanais
Do livro "Longe Assim..." (2008)
DEDICATÓRIA
ao leitor
a carne
do poema
ao não-leitor
os ossos
do ofício.
****************
PROJETO
um dia
eu quebro
o inquebrável
: a casca
do indizível.
DEDICATÓRIA
ao leitor
a carne
do poema
ao não-leitor
os ossos
do ofício.
****************
PROJETO
um dia
eu quebro
o inquebrável
: a casca
do indizível.
Wilson Gorj
Do livro "Prometo ser Breve" (2010)
FRUTO SECO
Sacudo meu dia
para que caia poesia.
Nada cai. Não tem fruto.
Só este tédio absoluto
sobre a tarde vazia.
*************
LIVRO BOM
É uma viagem só de ida.
Nunca nos devolve ao ponto de partida.
FRUTO SECO
Sacudo meu dia
para que caia poesia.
Nada cai. Não tem fruto.
Só este tédio absoluto
sobre a tarde vazia.
*************
LIVRO BOM
É uma viagem só de ida.
Nunca nos devolve ao ponto de partida.
viernes, 8 de abril de 2011
Cora Coralina
Das pedras
Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim.
Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.
Uma estrada,
um leito,
uma casa,
um companheiro.
Tudo de pedra.
Entre pedras
cresceu a minha poesia.
Minha vida...
Quebrando pedras
e plantando flores.
Entre pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude
dos meus versos.
**********
Aninha e suas pedras
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim.
Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.
Uma estrada,
um leito,
uma casa,
um companheiro.
Tudo de pedra.
Entre pedras
cresceu a minha poesia.
Minha vida...
Quebrando pedras
e plantando flores.
Entre pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude
dos meus versos.
**********
Aninha e suas pedras
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
martes, 22 de marzo de 2011
Cacaso
indefinição
pois assim é a poesia:
esta chama tão distante mas tão perto de
estar fria.
*************
happy end
meu amor e eu
nascemos um para o outro
agora só falta quem nos apresente
*************
alquimia sensual
tirante meus olhos e mãos
quero me transformar em seu corpo
com toda nudez experiente
do passado e do presente
e naquela noite
entre suspiros
terei aguardado a hora incrível
de tirar o sutiã
pois assim é a poesia:
esta chama tão distante mas tão perto de
estar fria.
*************
happy end
meu amor e eu
nascemos um para o outro
agora só falta quem nos apresente
*************
alquimia sensual
tirante meus olhos e mãos
quero me transformar em seu corpo
com toda nudez experiente
do passado e do presente
e naquela noite
entre suspiros
terei aguardado a hora incrível
de tirar o sutiã
martes, 8 de febrero de 2011
Chacal
Ontem
ontem hoje amanhã e sempre
a mesma coisa
às vezes varea
escassa rarea
vaza enche esvazia
depende do dia
****************
Culpado
foi mal lhe mal
tratei
como um tratante
mal educado
muito infeliz
pouco elegante
espero que
você me dê
mais uma chance
serei atento
a seu desejo
daqui em diante
*********************
É proibido pisar na grama
o jeito é deitar e rolar
ontem hoje amanhã e sempre
a mesma coisa
às vezes varea
escassa rarea
vaza enche esvazia
depende do dia
****************
Culpado
foi mal lhe mal
tratei
como um tratante
mal educado
muito infeliz
pouco elegante
espero que
você me dê
mais uma chance
serei atento
a seu desejo
daqui em diante
*********************
É proibido pisar na grama
o jeito é deitar e rolar
martes, 25 de enero de 2011
viernes, 21 de enero de 2011
Manoel de Barros
Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.
****************
Auto-Retrato Falado
Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão, aves, pessoas humildes, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos.
Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que fui salvo.
Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.
Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.
****************
Auto-Retrato Falado
Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão, aves, pessoas humildes, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos.
Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que fui salvo.
Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.
Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.
martes, 11 de enero de 2011
lunes, 10 de enero de 2011
Herculano Neto
isabela boscov não viu o
meu documentário
faço poses
para uma vitrine de tarjas pretas
(recolho a barriga
observo de soslaio)
o reflexo tosco
me diz sem escrúpulos
que tenho prazo de validade
e hora marcada para ser feliz
queria discordar
mas não há argumentos
(CINEMA – 2008)
*********
CORAÇÃO DESAJEITADO
Derrubando
Tropeçando
Esbarrando
Confundindo.
Até o coração é desajeitado.
meu documentário
faço poses
para uma vitrine de tarjas pretas
(recolho a barriga
observo de soslaio)
o reflexo tosco
me diz sem escrúpulos
que tenho prazo de validade
e hora marcada para ser feliz
queria discordar
mas não há argumentos
(CINEMA – 2008)
*********
CORAÇÃO DESAJEITADO
Derrubando
Tropeçando
Esbarrando
Confundindo.
Até o coração é desajeitado.
viernes, 7 de enero de 2011
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